quarta-feira, 27 de abril de 2011

Dilema de Abacaxi


É claro que ele falou mal de mim. É óbvio que sim. Ai, como eu sou idiota! Ele, certamente, aproveitou a primeira oportunidade para pegar o meu chefe e contar a versão dele da história. A versão mentirosa, inventada. E eu estou aqui, agora, desabafando com um computador, após ter ocupado, aproximadamente, quarenta minutos da noite do meu marido com essa aflição patética. E pensando se eu já deveria ter contado ou não ao meu chefe o que de fato aconteceu naquele telefonema. Será que ainda dá pra contar? É. Posso ligar pra ele amanhã bem cedo e tocar nesse assunto, assim como quem não quer nada. Talvez seja melhor falar ao vivo... Mas, só estarei com ele depois de amanhã e, até lá, já não sei mais se estarei achando uma boa idéia levantar essa questão. Ai, que dúvida...
Bom, enquanto não descubro o que fazer, resolvo escrever com a única esperança de encontrar uma solução no mínimo inteligente. Acabo de ser expulsa do meu quarto por Mateus, que ávido por assistir uma partida de futebol, achou melhor eu tentar descobrir isso sozinha mesmo.
Acho pertinente dividir com vocês o fato, mas escolho fazê-lo metaforicamente. Acreditem: a quantidade de palavras exclusivas do meio cinematográfico incluídas em um único parágrafo, faria com que vocês desistissem de prosseguir com a leitura.
Imaginem a seguinte situação: uma moça chega à um restaurante e é atendida pelo maître, que, sem muita paciência para recepcioná-la, a encaminha até a mesa mais próxima. Ela senta-se e fica aguardando até que um garçom dirija-se à ela para que possa fazer o pedido. Mas, nada. Ninguém aparece. Quinze minutos depois, ela resolve chamar o maître, que parado na porta do restaurante, não havia nem percebido tamanho descaso com a moça:
-       Senhor?!
-       Sim.
-       Pode vir até aqui, por favor?
-       Pois não?
-       Eu gostaria de fazer meu pedido, mas, até agora nenhum garçom me atendeu.
-       O nosso único garçom está de folga hoje, mas temos uma garçonete cobrindo a falta dele.
-       E o senhor pode, por gentileza, chamar essa garçonete para me atender?
-       Sim. Mas, o que a senhora deseja?
-       Fazer meu pedido.
-       Sim. Mas, o que a senhora quer pedir?
-       Um suco de abacaxi.
-       Como assim, um suco de abacaxi?
-       Um suco de abacaxi, ué! Como assim “como assim”?
-       É que eu não sei se tem suco de abacaxi.
-       E será que a garçonete não sabe se tem?
-       A garçonete não tem que saber uma coisa dessas.
-       Como ela não tem que saber? É claro que ela tem que saber uma coisa dessas.
-       Não estou entendendo aonde a senhora quer chegar.
-       Eu apenas estou querendo saber se tem suco de abacaxi!
-       Mas, eu já disse que não tenho como informar isso pra senhora!
-       O senhor não pode perguntar a alguém que saiba?
-       É impressão minha ou a senhora está “perseguindo” o garçom?
-       “Perseguindo” o garçom??? É óbvio que não. Ele nem está aqui hoje, não é?! Porque eu estaria o “perseguindo”?
-       Porque já faz um tempo que os clientes têm feito perguntas que o garçom não deve responder!
-       Como “se tem um suco de abacaxi”, por exemplo?
-       Exatamente. Não é obrigação dele saber isso!
-       Mas, eu não estou querendo que ele me responda isso. Eu só estou querendo saber se tem suco de abacaxi. E, essa informação, pode vir de qualquer pessoa. Como da garçonete, por exemplo.
-       Mas, eu não sei aonde está a garçonete.
-       Olha, senhor, eu não vou nem entrar nesse mérito, mas, estou cansada, não há outros restaurantes pela região e eu gostaria muito de tomar um suco de abacaxi. O senhor, mesmo não sendo a pessoa adequada, poderia descobrir isso pra mim?
Extremamente irritado com a pergunta da moça, o maître vira as costas e parte em direção à cozinha. Cinco minutos depois, ele retorna com a informação:
-       Não tem suco de abacaxi.
-       Mas, deveria ter. O nome do restaurante é “Abacaxi e Cia”!
-       É. Mas, não tem.
-       Ok, senhor. Muito obrigada.
No caminho até a saída, ela passa por uma mesa, onde, sentado, encontra-se um rapaz tomando um vistoso suco de abacaxi. Sem se agüentar, pergunta a ele:
-       Com licença, isso é suco de abacaxi?
-       É.
-       Daqui do restaurante?
Com um ar de questionamento, ele responde:
-       Sim?!?!?!
A moça, tentando se manter calma, dá meia volta e parte em direção ao maître:
-       O senhor não falou que não tinha suco de abacaxi?
-       Falei.
-       Mas, aquele rapaz está tomando um suco de abacaxi.
-       Ah, tá?
-       Sim, está! Então???
-       Então, vai ver que tem.
Ela respira fundo, muito fundo e decide sair do restaurante. Algo que deveria ter feito desde o início...
            Pois bem, eu sou a moça. E, ele, é o suco de abacaxi! Não, quem dera! Ele é o maldito maître, que a essa altura do campeonato, me detesta com todas as forças só porque eu queria um suco de abacaxi! E deve ter enchido a cabeça do meu chefe com um monte de bobagens e invenções ao meu respeito. Ele me detesta, com certeza. Mas, será que eu sou detestável? Ai, socorro, não posso ter pessoas que não gostem de mim! Não consigo conviver com isso! Eu sou uma pessoa tão legal... Talvez, eu não seja. Talvez, eu seja insuportável. Não, aí já é demais!
Começo, enlouquecidamente, a pensar em todas as pessoas que, provavelmente, não gostam de mim. Duas no trabalho (só duas no trabalho? Devem ter mais...), umas cinco na família (ai, essa doeu...), umas três da época do colégio e umas duas da época do balé. Contabilizando chego à doze pessoas. Coloco umas quatro para uma margem de erro. Dezesseis! No mínimo existem umas dezesseis pessoas que, certamente, não gostam de mim. Fora as que eu não sei que não gostam... Putz, será que estou um pouco acima da média?
Acho que terei que conviver com essa dúvida, a não ser que eu faça uma enquete no blog: “Quantas pessoas não gostam de você?”. Seria, no mínimo polêmico. Poderia até criar um grupo de auto-ajuda para pessoas que, como eu, não conseguem conviver com o fato de não serem queridas por, absolutamente, todos à sua volta.
Mas, pensando bem, eu não posso querer “ser querida” por todos se eu também não “quero” todos. Das dezesseis pessoas contabilizadas, aproximadamente, oito mantém a reciprocidade comigo. Mas, a minha listinha das pessoas que eu não quero bem também inclui nomes de pessoas que eu acredito que me queiram bem. Sendo assim, acabo igualando as duas listas e chegando à conclusão de que não há problema nenhum não ser querida por todos, visto que você também não quer bem a todos. Um pouco confuso? Acho que não, né? Dá pra entender.
Ufa! Respiro até mais aliviada depois dessa super enquete. Terapeuta pra quê? As minhas palavras respondem tudo. Hum, respondem mais ou menos tudo. Ainda continuo sem saber se ligo ou não ligo pro meu chefe...

2 comentários:

  1. Eu ligaria mas não para isso e no meio da conversa: -Aconteceu uma coisa engraçada hj...Vc sabe que eu queria saber se tinha apenas um suco de abacaxi aqui no restaurante e o Maître...Fica natural. rs
    Eu tb fico muito mal se sei que não agradei alguém...Tenho que melhorar isso, pq não gosto de uma porção de gente e para igualar minha lista, tenho que ser mais odiada e aceitar isso...rs Muito difícil!
    K. Cristina

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  2. Em relação ao seu chefe eu não sei também!!! Agora na próxima vez que você ficar mais de 10 minutos sem ser atendida....VAZAAAA!!!! Não ser atendida nesse prazo já não é um bom sinal, imagina o resto!!!

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